18 de maio de 2010

01 - A irmã

    Um clarão. O que era aquilo? Será que eu estava morrendo? Tipo, sendo atropelada por um caminhão? Não, confesso que só disse isso para dar um ar de mistério. Era apenas a minha mãe, abrindo a janela do meu quarto num dia insuportavelmente ensolarado.
— Droga — resmunguei. — Mais cinco minutos mãe.
Minha mãe me ignorou, recolhendo os meus calçados e minhas roupas. Odeio quando ela se faz de surda.
— Mãe! — insisti, mas foi em vão. — Droga! Droga de vida.
Reclamei. Aquele era o meu forte.
— Bom dia Samantha — disse minha mãe depois de me ignorar e me obrigar a levantar, às vezes acho que ela é irônica sem perceber. — Marina já está tomando café.
Marina! Grande porcaria, o que eu quero com Marina? Ela já é perfeita sem a minha ajuda. Ah, antes que eu me esqueça, Marina é a minha irmã caçula — e única —, e posso dizer que ela é uma peste, mas não posso falar isso para a minha mãe, porque Dona Anna acha que a minha irmãzinha querida, é um "anjo"!
— Mãe? Não posso dormir mais? Hoje é sábado... — perguntei bêbada de sono.
— Não senhora — respondeu ela, aquilo não era novidade. — Seu pai vem daqui a pouco buscá-las.
Tradução de "Daqui a pouco": Daqui a três horas. Minha mãe sempre exagera, se meu pai vem me buscar às 12 horas, ela me acorda às nove.
Fui ao banheiro, fazer a minha higiene. Assustei-me com o meu reflexo, pois o meu cabelo parecia mais uma juba de leão. E lá estava eu: cabelos longos, escuros e lisos emaranhados, e minha franja totalmente bagunçada. Minhas olheiras profundas que indicavam uma noite mal dormida.
Escovei os dentes com a minha pequena escova rosa choque, ajeitei o meu cabelo, e desci de pijama mesmo.
Encontrei Marina tomando um copo de leite com pão. Ela estava pensativa.
— Oi — disse ela de boca cheia. — Não vai comer?
— Vou — respondi, sentando ao lado dela, e começando a passar manteiga em um pedaço de pão.
— Papai vem nos buscar — disse ela, parecendo empolgada. — Estou ansiosa, ele disse que tem um presente para mim.
Ah, agora entendi a sua empolgação. Por que a minha irmã era tão interesseira?
— É. Você me disse isso ontem — falei, tentando ficar em paz.
— Espero que ele me dê uma maquiagem. Estou precisando — comentou.
— Você usa a minha maquiagem, como está precisando? — perguntei atônita, parando de passar manteiga no pão para olhá-la.
— Ah, já está acabando não é? E está na hora de mudar.
Folgada! Eu estou a deixando usar as minhas coisas e ela vem com esse papo de que "está na hora de mudar".
Respirei fundo, eu não queria brigar com ela, não a essa hora da manhã, quando eu estava morrendo de sono. 
Marina terminou de comer rapidamente — porque come pouco demais para levar vinte minutos, como eu —, e foi se arrumar. Em menos de dez minutos voltou.
— Onde está a minha lente de contato? — ela me perguntou, provavelmente me acusando de ter sumido a lente dela.
Mastiguei calmamente e então lhe respondi:
— Não sei. Se você que usa não sabe, como eu vou saber?
Marina usa lente de contato da mesma cor de seus olhos: verdes. A sortuda além de ter cabelos loiros — mesmo que ondulados — tem olhos verdes. Parece mais uma modelo, alta, magra, e linda... muito linda, admito! Portanto, não é a toa que os rapazes se ajoelham aos seus pés.
— Grossa! — disse ela, ríspida. — Eu só perguntei...
— Eu já disse que não sei Marina — tentei, mais uma vez, comer em paz.
Marina ficou falando, reclamando, me culpando. Mas quem disse que me importei? Simplesmente a ignorei, o que fez com que ela reclamasse ainda mais e a minha mãe brigasse comigo.
Enfim, depois disso tudo, eu fui me arrumar, já que não havia conseguido comer tranquilamente como pretendia. Pouco tempo depois, meu pai, Hector, chegou e nós fomos para a casa dele. Ele me surpreendeu, afinal, desta vez não atrasou.
Marina adorou seu presente, não era uma maquiagem — foi praga minha! — mas ela ainda assim gostou muito. Era um celular — já que ela havia estragado o dela —, a garota ficou toda saltitante, parecendo uma criança quando ganha uma bala.
Meu pai é diferente de minha mãe. Se a minha mãe é apressada — porque nos faz levantar três horas antes — meu pai é atrasado — chega três horas depois —, se a minha mãe vive brigando comigo, ele vive me defendendo. A única coisa que eles não são diferentes é: para eles, Marina é um anjinho. Mas, meu pai e a minha mãe não se relacionam bem, são pessoas muito diferentes. São como água e azeite: não se misturam.
Minha mãe, Anna, parece ser insensível... só parece. Ela acha que eu não sei que ela chora todas as noites por causa do meu pai. Mesmo que eles tenham se divorciado há quatro anos e que eles sejam muito diferentes, minha mãe o ama com tudo que pode. É doloroso para ela ver que ele não sente o mesmo — pelo menos, é o que parece — e acho que é isso que faz com que dê mais atenção à Marina, porque, ela tenta esquecer meu pai e eu sou praticamente o lado feminino dele.
Eu e a minha irmã, evitamos comentar qualquer assunto que envolva o papai para Dona Anna, principalmente aqueles que incluam mulheres, já que elas parecem loucas por ele.
Devo admitir que o meu pai é muito charmoso, e não digo isso apenas por ser sua filha, estou falando a verdade! O "senhor" Hector é alto, um pouco musculoso, branco e de olhos negros. Tem alguns fios brancos, mas isso não importa, pois existem mulheres que amam isso. 
— Pai preciso ligar para Marie e contar a novidade! Finalmente tenho um celular! — comemorou Marina subindo a escada.
A casa do meu pai era grande, e embora ele morasse sozinho ali, sendo a única mulher a empregada doméstica, Georgia, era bastante organizada. Além disso, havia várias coisas modernas, o que parecia ser algo do estilo de meu pai.
Mesas de vidro, móveis brancos, tapetes bonitos, espelhos... Aquilo me lembrava um pouco Marina, que era fascinada por tecnologia e tudo que era novo, mesmo que aquilo também me agradasse.
— Tudo bem meu anjo. Só tome cuidado para não estragar, isso custou caro — disse ele deixando as chaves do carro em cima da mesa de vidro. — Então, Sam? Como foi a sua semana?
— Foi normal — respondi olhando para a vista da janela da sala, tinha várias árvores e parecia muito agradável.
— E o colégio? — perguntou ele, meu pai sempre quer saber como vai as minhas notas.
— Continua na mesma — falei, bocejando logo em seguida.
— Está com sono? Ficou acordada até tarde ontem? — perguntou ele, desconfiando.
— Não — menti, mas ele pareceu não acreditar. — Tudo bem, dormi cinco horas da manhã, fiquei vendo filme.
— Não sei como consegue — comentou ele, rindo logo em seguida. — Descanse um pouco, mas daqui a pouco eu quero que você e sua irmã façam uma caminhada comigo.
— Pode deixar — subi a escada de madeira indo para o meu quarto.
Meu quarto era também bastante organizado. Nele havia tudo o que uma garota da minha idade precisava: escrivaninha, guarda-roupa, cama de casal, janela, ar-condicionado, criado mudo e poltrona. Só faltava o banheiro para ser uma suíte. Quase tudo ali era branco — o guarda-roupa, a cama, o ar-condicionado e as paredes.
Tirei o meu all star e me atirei naquela cama fofa, adormecendo como uma pedra.
"Como você dorme enquanto o resto de nós chora? Como você sonha quando uma mãe não tem a chance de dizer adeus? Como você anda com a sua cabeça erguida? Você pode pelo menos me olhar nos olhos... e me dizer como?..."
Acordei com o som de minha música preferida: Dear Mr. President, da cantora Pink. E aquilo me deu vontade de cantar, mas não arrisquei, por medo de que os vidros quebrassem. Contentei-me em apenas balançar o pé e fazer "barulho" com a boca.
Música... o ser humano ainda não encontrou as palavras certas para descrever essa magia. Os livros e as músicas são, de fato, verdadeiras poções mágicas, pois te apresentam um mundo novo, te fazem viajar sem sair do lugar, te afasta de qualquer coisa, até mesmo de sua vidinha medíocre e monótona. 
Lembrei-me de que tinha que caminhar com o meu pai. Então levantei da cama em um pulo, pegando a toalha e indo para o banheiro.
Logo após um delicioso e relaxante banho, vesti uma calça adequada para fazer caminhada, uma regata branca e calcei o tênis.
Lá embaixo meu pai e Marina me esperavam, impacientemente, como se já soubessem que eu havia acordado. E mesmo em trajes de academia, a minha irmã continuava linda. Existem pessoas que embora você tente a todo custo ofuscar o seu brilho, elas conseguem se sobressair — não que eu faça isso, é apenas uma frase bonita que eu escutei por aí.
Não poderia ter sido pior. Marina corria e meu pai a acompanhava, enquanto eu, a preguiçosa e molenga, ficava para trás. Que culpa eu tenho se sou sedentária? Odeio exercícios físicos, eles são chatos e tediosos. Mas apesar disso, eu estava em meu peso ideal.
Os homens que estavam por ali, assobiavam para a minha irmã, que esbanjava sensualidade enquanto corria. E ela, fingindo-se de tímida e moça recatada, esboçava um acanhado sorriso.
Meu celular tocou enquanto caminhávamos, o que fez com que meu pai me olhasse com reprovação, mas eu sabia que ele não estava nervoso.
Encostei-me a uma árvore para atender enquanto ele e a minha irmã corriam. Era Nalin.
— Diga — eu disse um pouco ofegante.
— Tenho um mega convite, e não aceitarei "não" como resposta — avisou, parecendo eufórica. — Separe seu melhor vestido, porque você irá a uma festa.
— Outra? — perguntei sem acreditar.
— Claro... Nalin Wonks não para nunca! Te pego às nove em ponto. Você está na casa do seu pai?
— Sim, mas...
Ela me interrompeu.
— Está bem, até mais Sam! Vou desligar antes que você argumente contra.
Dito e feito, ela desligou.
Bufei. Então o celular começou a novamente a tocar. Pela segunda vez era Nalin.
— Ah, esqueci de dizer, é para a Marina vir também! Tchauzinho — disse ela, esbaforida, desligando outra vez. 
Desliguei o telefone, e corri até o meu pai e a minha irmã, fazendo esforço para acompanhá-los.
— Sam! Gostei de ver... — disse meu pai sorrindo, provavelmente estava surpreso por me ver correndo. — É isso mesmo, tem que fazer exercícios.
Sorri amarelo. Na verdade, eu só estava ali ao lado deles, naquela velocidade, porque queria convencer o meu pai a nos deixar ir à festa.
— Hum... o que aconteceu? — É estranho como meu pai me conhece tão bem, que até sabe que tem algo acontecendo.
— Era Nalin — contei-lhe, ofegante.
— Ah, é claro. Você e ela não se desgrudam. — Ele sorriu. — Então...?
— Ela me chamou para uma festa — revelei receosa.
— Eu devia ter adivinhado. — Meu pai riu, balançando a cabeça.
— Uma festa? Ah que legal! — Marina se intrometeu. — E deixe-me adivinhar, ela me chamou também?
— Sim — respondi-lhe, sem fazer maiores comentários. — Pai?
— Sim?
— Eu e Marina podemos ir? — perguntei.
Ele deu de ombros.
— Preferia que vocês ficassem em casa comigo, mas se vocês quiserem ir, eu não vou impedir — respondeu.
— Ah pai, falando assim até perde a graça — comentei.
— O senhor Hector está querendo nos deixar com consciência pesada? — perguntou Marina sorrindo.
— Não, longe de mim. Se vocês quiserem ir, podem ir — avisou. — Mas as minhas Cinderelas têm que voltar antes do Sol nascer, ou seja, não muito tarde.
— Ah não, pai! — exclamou a minha irmã. — Sem essa coisa de Cinderela ou Gata Borralheira. Desse jeito não há diversão!
— É oito ou oitenta, é tudo ou nada — avisou Hector.
— Está bem, está bem... — disse Marina. — Vamos logo Sam, temos que acabar de caminhar para irmos nos arrumar.
— Temos até nove horas para nos arrumarmos, Marina. Então acalme-se — avisei-a.
Imagine uma tarde quase insuportável, na qual a sua irmã fica o tempo todo falando de alguma festa. É... nesse momento você se arrepende de ter contado a tal novidade a ela. Mas que culpa você tem? Você não poderia adivinhar que ela iria ficar repetindo a mesma coisa feito um papagaio...
Bom, foi isso que aconteceu comigo. Marina ficou tagarelando sem parar.
Durante o almoço, durante a tarde inteira. A minha irmã começou a se arrumar três e meia. Encheu-se de cremes de beleza, tomou um banho ultra-relaxante, cantarolou Beatles para se acalmar — isso é uma mania dela — fez um monte de “troços” no cabelo, esmaltou as unhas, depilou as pernas... Enfim, a casa de meu pai se tornou um verdadeiro SPA, “SPA irmã perfeita: entre e se torne uma Barbie de carne e osso”.
Devo agradecer seriamente a Deus por essa tarde ter acabado.
Ou talvez não tão seriamente assim, porque Marina ficou ainda linda — como se fosse possível.
Aqui vai um breve resumo da beleza impecável de minha irmã caçula: seus cabelos estavam ainda mais brilhantes e sedosos, os cachos nas pontas eram tão belos que deixavam qualquer cabelo artificialmente liso no chinelo. A maquiagem que usara, realçou os seus olhos verdes, fazendo ela se parecer ainda mais com um anjo — mas as aparências enganam —, até porque, a sua pele era suave como de um. E apesar de ter 1,73 m, Marina ainda calçou uma sandália de salto alto, o que lhe deu a impressão de que ela fosse mais magra do que realmente era. Para completar vestia um vestido de cetim azul, que realçava a cintura, era curto e tomara que caia.
Era inútil me comparar com ela, pois isso não me faria sentir melhor, e sim, pior. 
Já eu estava — se comparada com ela — parecendo uma pessoa que não sabia se vestir.
Cabelos soltos, escovados e talvez um pouco sedosos. A franja fora ajeitada com todo o custo. Trajava um vestido parecido com o de minha irmã: de cetim e roxo, que realçava a cintura, porém, ao contrário do de Marina, tinha uma alça fina.
O destino era irônico comigo, parecia gostar de brincar com a minha cara. Eu vivia rodeada de pessoas bonitas — Marina, Nalin, Elle —, no entanto, não era como elas. Tantas coisas que eu poderia ter e ser, mas não era. Tanto lugares onde eu gostaria de estar, mas não estava.
Pelo menos em uma coisa eu era melhor do que a minha "maninha": nas notas do colégio. E as minhas amigas diziam que eu era bem mais simpática e engraçada do que a minha irmã. Mas garotos gostam de garotas desastradas e/ou engraçadas? Não! Eles só se importam com a aparência. Homens são tão superficiais.
Como competir com uma pessoa perfeita? É impossível.
Porém, parando de lamentar por algo que não vai mudar tão cedo — talvez nunca mude —, devo dizer que Nalin foi pontual. Ela chegou às nove horas junto com o irmão — Kellan — para nos buscar.
— Sam! — exclamou ela ao me ver. — Parece que faz anos que eu não te vejo.
— Ah Nalin, nós nos vimos ontem — lembrei-a, sorrindo sem-graça, enquanto ela me abraçava.
— Ah sua sem coração, eu sinto saudades de ti, mas você, sua insensível, nem se lembra de mim! — dramatizou.
Nalin desviou a sua atenção para Marina.
— Puxa Marina! Como você está bonita — minha melhor amiga a elogiou, para o meu descontentamento. — Desse jeito eu não vou deixar você ir à festa, vai chamar mais atenção do que eu!
— Ah não Nalin, sem essa! — avisou Marina, quase batendo o pé no chão. — Deixe-me ir!
Marina às vezes não entende uma brincadeira, e eu odeio isso.
— Eu estou brincando. — Nalin revirou os olhos. — Vamos logo. 
Entramos no carro e cumprimentamos Kellan, que como sempre, ficou olhando Marina pelo retrovisor. Ele não era flor que se cheire, vivia mal humorado, e não se relacionava bem comigo. Mas, para Nalin e outras pessoas, ele era um amor. Bom, creio eu que também sou assim.
Conversamos durante toda a ida para a festa. Nalin e o seu irmão estavam no banco dianteiro, enquanto eu e a minha irmã íamos atrás.
Apesar dos olhares intimidantes de Kellan, Marina continuava sorrindo e evitava olhá-lo. E, naquele momento, não entendi nada. Porque apesar de o irmão de minha melhor amiga ser chato, não era de se jogar fora.
— E Mellani? — perguntou Marina, notando pela primeira vez a falta da amiga.
— Aquela lá ninguém consegue segurar — comentou Nalin. — Acreditem se quiser, ela foi com Alice.
Alice era uma colega de classe de minha irmã. E pelo que eu sabia as duas eram carne e unha.
— Chegamos — avisou Kellan, estacionando o carro em frente à uma grande mansão.
— Ah espere, não é aqui que mora Daniel Hoffman? — perguntei me dando conta.
Daniel Hoffman estudava em meu colégio, no mesmo ano que eu. Infelizmente. Era um garoto insuportável, porém bonito. O que a beleza não faz não é? Ela oculta até os piores defeitos do ser humano.
— É — afirmou a minha amiga. — Eu não te contei porque sabia que caso soubesse não viria. Mas já que estamos aqui, vamos entrar.
Bufei. Já havia me arrependido de ter aceitado o convite de Nalin.
— E depois que o Hoffman mandou convidar todo mundo, e eu te chamei! Deveria estar agradecida... — contou-me ela.
Desci do carro descontente. Havia outros por ali, indicando que a festa já havia começado e estava ótima.
A casa parecia enorme e luxuosa. Tinha paredes brancas e um portão enorme. Bastava um só olhar para perceber o luxo em que um dos garotos que eu não suportava vivia.
Naquele momento tudo que eu mais queria era matar aquela pessoa que eu chamava de melhor amiga! Diabos!
As pessoas lá dentro pareciam estar se divertindo. Inclusive Mellani, que ao nos ver, veio direto para falar com uma de suas melhores amigas — Marina.
A irmã caçula de Nalin se parecia com ela, aliás, os Wonks eram todos parecidos: cabelos negros e lisos, com olhos da mesma cor e magros. As duas garotas tinham estatura mediana, porém, o garoto tinha quase dois metros e era bastante musculoso.
Naquele momento encontrei Elle, a minha segunda melhor amiga — não que eu goste de enumerar meus amigos, mas isso é inevitável —, que parecia muito feliz.
Kellan se juntou com alguns amigos, enquanto eu me juntei às minhas duas melhores amigas.
— Que legal te ver Sam! — disse Elle, animada. Quero dizer, ela praticamente gritou, porque era quase impossível escutar algo ali. — Já cumprimentou o dono da casa?
— Eu não — neguei. — Eu nem sabia que a festa era aqui. Nalin me convidou e não me disse.
— Nalin traíra! — brincou Elle, rindo.
A minha melhor amiga fez biquinho, fingindo-se de magoada.
Elle ajeitou os óculos no rosto. Tinha 1,60 m, era bem branquinha, como uma boneca, seus cabelos eram sedosos, castanho-claros, ondulados e na altura dos ombros.
As duas começaram a conversar animadamente, enquanto caminhávamos até algum lugar confortável.
Passei os olhos pelo salão daquela imensa casa, onde todos dançavam e se contorciam ao som de House Boulevard. 
E foi ali, ao som da música de House Boulevard e Samara, "Set me free", que eu o vi.
Não sei ao certo o que eu senti quando enxerguei pela primeira vez o seu sorriso perfeito. Mas tenho que certeza de que foi como se o mundo inteiro ficasse escuro, enquanto ele emitisse luz própria, como o Sol.
Se estivéssemos em um filme, provavelmente uma melodia romântica começaria a tocar, mas como não estávamos, a música de fundo que embalou a minha atração por ele, era eletrônica, e que eu gostava muito.
Liberte-me! (Set me free) — dizia a música.
Acho que ele sentira o peso de meus olhos em cima de si, pois olhou para mim, fazendo seu sorriso murchar. Ele estava me vendo? Quero dizer, ele estava realmente olhando para mim?
Preciso muito dizer o quão belo ele era. Branco, aparentemente musculoso, com um sorriso que me deixava sem ar. Seus cabelos eram negros, curtos e lisos. E seus olhos da mesma cor.
Queria poder dizer o que eu realmente via em seus olhos. Qual era o sentimento que eles emitiam?
O estranho maravilhoso estava sério demais. E me encarava como se eu fosse algo muito absurdo ou uma obra de arte. Bom, creio que estava mais para a primeira opção.
Seus lábios pareciam macios, e mesmo estando a uma boa distância, eu os via o suficiente para querer beijá-los.
Oh Deus! As minhas pernas estão bambas, e eu posso morrer a qualquer momento.
— Amo essa música! — Nalin, a louca, disse puxando eu e Elle para dançar.
Tive que fazer algo que muitas pessoas chamam de “soltar a franga”. E devo ter soltado mesmo, pois, agora que eu parei para pensar, lembro-me de ter visto as minhas duas amigas comentarem que eu estava dançando muito. Bem, elas só disseram isso, mas não especificaram se era muito mal ou muito bem. Torço para que seja a segunda opção, porque eu não poderia fazer feio para o estranho maravilhoso em hipótese alguma.
Eu o olhava pelo canto do olho, e ele continuava a me encarar. Isso era um bom sinal, não?
Porém, se eu soubesse o que aconteceria, teria evitado olhá-lo.
Tudo pareceu acontecer em câmera lenta, como nos filmes. As pessoas pareciam se mover numa lentidão entediante, e Marina se aproximava vagarosamente do estranho. Foi ai que ela o beijou. A língua dela na boca dele, a língua dele na boca dela... isso é tão nojento!
Por uma ironia do destino, eu caí, como uma idiota. E ainda levei um garoto que estava por perto junto comigo.

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